segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Blogger do Paulo Sergio

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O Pré-sal é Nosso

Por Paulo Sergio A. Cruz
Professor Universitário , Economista, Consultor Técnico da Aliança Cooperativa Internacional- ACI e Editor Chefe da revista Tendências do Trabalho – e-mail: psergiocruz@yahoo.com

O PRÉ-SAL É NOSSO

O Brasil tem nas mãos uma chance, imperdível, de se tornar um país desenvolvido e, a julgar pelos fatos, que vamos relatar a seguir, podemos mesmo dizer que Deus é brasileiro.

De acordo com estudos geológicos do conhecimento geral, há , aproximadamente , 130 milhões de anos atrás, teve início a separação da África do continente Sul Americano, tendo daí surgido, no meio dessa separação, um enorme lago que deu origem, posteriormente, ao Oceano Atlântico .

Uma imensa quantidade de material orgânico ficou depositado debaixo do sal e, um pouco mais tarde, outros elementos também vieram fazer parte dessa enorme massa, a qual , através de uma combinação de variações de temperatura e pressão, converteu a matéria assim depositada em petróleo.
Através de movimentos tectônicos, um pouco mais á frente, uma pequena parte desse petróleo migrou para cima dessa camada e a maior parte, deslocou-se da camada de sal existente, tendo se depositado abaixo dessa mesma camada.

Eis aí , resumidamente, um breve histórico da chamada camada do pré-sal, que foi recentemente descoberta pela Petrobrás, numa área total estimada de 160.000 km2, que vai da bacia marítima do estado do Espírito Santo até Santa Catarina, com 200 Km de largura por 800 Km de comprimento. O pré-sal é pois uma camada de reservatórios de petróleo, que se encontram depositados abaixo dessa camada de sal, em lâminas d’água que variam entre 1,5 mil e 3 mil metros e com soterramento compreendido entre 4 mil e 6 mil metros de profundidade.

Como sabemos, a Petrobrás é líder mundial na tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas e poderá no futuro, se associar ainda a outras empresas internacionais, que detenham reconhecida capacidade técnica nesse mister, como as atualmente em operação no Mar do Norte e na Noruega.

Estimativas, ainda que preliminares, falam em um volume total de petróleo existente na camada do pré-sal ao redor de 300 bilhões de barris de petróleo. Isso levaria o Brasil, dentro de aproximadamente 10 anos a se tornar um grande exportador de petróleo e quem sabe ? o detentor de uma das maiores reservas de petróleo e gás conhecidas no mundo.

Essa notícia auspiciosa, pode ainda ser completada pela qualidade do petróleo encontrada nos 15 poços pioneiros já perfurados e nos testes de vasão já efetuados, que comprovaram a existência de petróleo leve e, portanto, com alto valor comercial . Essa nova perspectiva é a melhor notícia no setor de petróleo no Brasil dos últimos 50 anos.
Conforme sabemos, o tipo do petróleo hoje produzido pela Petrobrás, em terra e na plataforma continental é pesado e, por isso mesmo exige, para atender a estrutura industrial de craqueamento em operação, que se exporte quase que a sua totalidade , para posterior importação do petróleo tipo leve, de outros paises.

Atualmente, os Estados Unidos consomem 25% do petróleo no mundo ou cerca de 7 bilhões de barris ano. Com certeza, é por esse motivo que a política externa norte-americana exige a manutenção permanente de tropas na Arábia Saudita ( reservas de petróleo estimada em 260 bilhões de barris ), justifica a ocupação no Iraque, pós-Saddam Hussein ( reservas de petróleo estimadas em 216 bilhões de barris, incluindo as recentes descobertas no deserto a oeste do país ) e mantém uma posição sempre beligerante, em relação ao Irã ( reservas de petróleo estimadas em 100 bilhões de barris).

O Brasil, atualmente, consome cerca 700 milhões de barris de petróleo por ano e as nossas reservas, provadas e cubadas, estão num nível de 15 bilhões de barris, excluindo-se daí as reservas de Tupi, estimadas entre 5 e 8 bilhões de barris e Júpiter e Carioca, estimadas entre 3 e 5 bilhões de barris.
Atualmente, o nosso país produz cerca de 1,900 milhões barris de petróleo/dia, para um consumo aproximado de 2,0 milhões de barris/dia , ocupando hoje a 24ª posição entre as maiores reservas de petróleo e gás do mundo.

Para que se tenha uma pequena idéia da magnitude dessa recente descoberta no pré-sal, podemos calcular que a receita gerada para o volume de petróleo inicialmente estimado seria de 21 trilhões de dólares ( 330 bilhões de barris x US$ 70,00 o barril ). Essa receita corresponde hoje a cerca de 37,5% do PIB do mundo ( US$ 56 trilhões ).

Só em recolhimento de impostos, diretos e indiretos, sobre esta mesma receita o governo pode arrecadar cerca de 7,35 trilhões de dólares ( 35% da receita bruta) e o recebimento de dividendo, seria da ordem de 2,0 trilhões de dólares ( 10% da receita bruta ), considerando-se a distribuição de 100% do lucro gerado, sob a forma de dividendos. É bom também lembrar que este valor de faturamento bruto, representa, aproximadamente, 14 anos do atual PIB do Brasil ( US$ 1,5 trilhões por ano )

O tempo estimado para o início da exploração do pré-sal é de, aproximadamente , 6/7 anos , sendo que os custos inicialmente projetados, apontam para um total de recursos da ordem de US$ 600 bilhões.

Essa estimativa preliminar de custos, leva em consideração a necessidade, numa primeira fase e durante os próximos 15 anos, de 150 sondas de prospecção, a razão de US$ 740 milhões cada, e idêntico número de plataformas de exploração, a razão de US$ 1,6 bilhões cada, totalizando, nesse mesmo período, um investimento aproximado, só nestes 2 itens, de cerca de US$ 350,0 bilhões

Os primeiros críticos dessa fabulosa descoberta vociferam , de imediato, que o Brasil não tem recursos próprios para tal volume de investimentos, o que é a mais pura verdade. Entretanto, se esquecem de dizer que existem, hoje no mercado financeiro mundial, investimentos de mais de US$ 17 trilhões, circulando, diariamente, em especulações financeiras, especialmente no mercado de derivativos, com enorme riscos inerentes para estas aplicações conforme podemos testemunhar na atual crise no mercado financeiro norte-americano e mundial, ocasionada por especulações nos papeis conhecidos com o subprime. Só para podermos nos situar sobre os números espantosos nesse mercado , podemos informar que o valor total de face dos papeis no mercado futuro, alcançam hoje a inimaginável cifra de US$ 540 trilhões ou quase 10 vezes o total do PIB do planeta.

Se nós considerarmos que uma pequena parte desses mesmos recursos, hoje aplicados no mercado de derivativos fossem aplicados em um investimento mais que seguro, como o pré-sal, seria atingido, até com certa facilidade, o volume de recursos necessários à exploração dessa inacreditável reserva petrolífera.

É bom também não esquecer nunca o que nos ensinou David Rockefeller, o banqueiro e grande magnata do petróleo nos Estados Unidos, herdeiro da Standard Oil , que sempre afirma que o melhor investimento do mundo é uma companhia de petróleo e que o segundo e terceiro melhor investimento são, respectivamente, uma companhia de petróleo, mal administrada e uma outra companhia de petróleo, muito mal administrada.

Com relação aos marcos regulatórios existentes para a exploração de petróleo hoje no país, surge uma outra especulação, açodada e inverídica. Argumentam alguns extremistas liberais, que nada deve ser mudado na atual legislação existente sobre a exploração do petróleo e que a Agência Nacional de Petróleo - ANP, está perfeitamente preparada e legalmente constituída, para gerenciar o grande projeto do pré-sal no país. Ledo engano, pois se esquecem esses açodados que, de acordo com a chamada “segregação de funções”, que deve sempre ser observada no trato da coisa pública, quem licita, não contrata, quem contrata não fiscaliza, quem fiscaliza, não paga, etc , e se a ANP regula o mercado e licita as áreas para exploração de petróleo, não pode gerenciar a exploração dessas mesmas áreas.

Por outro lado, existem também os falsos bem-intencionados, que alegam que a Petrobrás não pode ser privilegiada, detendo a exclusividade na exploração do pré-sal, o que também é verdade, mas não significa, de forma alguma, que não deva ser o principal agente do governo para efetuar a execução dessa mesma exploração, sendo, por isso mesmo , devidamente remunerada a preços de mercado.

Os analistas mais sérios, já perceberam que é de fundamental importância a criação de uma outra empresa estatal para cuidar do assunto. Não o mastodonte que os brasileiros de patriotismo duvidoso alegam, mas sim uma Empresa Pública de Propósito Exclusivo ( EPPE), que teria um quadro máximo de 80 funcionários, responsáveis pelo acompanhamento e gerenciamento administrativo do projeto e, conseqüentemente, pela defesa dos interesses da união e, por via de conseqüência, do patrimônio do povo brasileiro.

Alguns analistas mais cínicos, com sangue de uma outra coloração que não a verde-amarela, defendem que a Petrobrás pode, perfeitamente, através de parcerias com outras empresas multinacionais, explorar, livremente, todo o potencial econômico do pré-sal. Pode mas, não deve, pois o capital social atual da Petrobrás, está dividido em cerca de 32% de ações nominais, com direito a voto e total controle na gestão da empresa ( 100% em poder do governo ) e outros 68% de ações preferenciais, com direitos somente ao recebimento de dividendos, dos quais, mais de 52% se encontram hoje em mãos de empresas petrolíferas estrangeiras - norte-americanas, na sua grande maioria .
Essa opção, inominável, significa que devemos entregar um bilhete de loteria já premiado a essas mesmas empresas, que até o momento atuam, subsidiariamente, à ação de prospecção e pesquisa desenvolvida pela Petrobrás. É preciso que todos os brasileiros saibam que, até agora, foram prospectados cerca de 15 poços pioneiros na camada do pré-sal, em áreas contínuas, e relativamente distantes e situadas entre a bacia marítima do Espírito Santo, de Campos, no Rio de Janeiro, e de Santos, em São Paulo, numa área total de aproximadamente 14.000Km2 , com um resultado excepcional de 100% de acerto. É, portanto, perfeitamente lícito supormos que pode existir uma só área contínua de petróleo, dentro dos 160.000 Km2 já dimensionados como limites do pré-sal.

O atual governo já tem definidas algumas premissas básicas sobre o assunto, as quais contemplam 4 diferentes estratégias para a exploração futura do pré-sal, a saber : a) serão completamente garantidos todos os blocos já licitados, sendo que os seus vencedores terão respeitados , na íntegra , todos os respectivos contratos já assinados; b) não será mais concedido, dentro do atual regime, quer à iniciativa privada, quer à Petrobrás, nenhum outro bloco localizado na área do pré-sal; c) o novo regime a ser adotado para as explorações futuras nessas áreas será o de partilha de produção; d) será mesmo criada uma nova empresa estatal, possivelmente uma EPPE, sem atividade operacional, voltada, exclusivamente, para a gestão de todos os contratos futuros que vierem a ser assinados.

Com isso, podemos afirmar que o Brasil terá um sistema misto de exploração do petróleo no pré-sal, no qual coexistirão a concessão para áreas de alto risco exploratório e a partilha na produção do petróleo explorado.

Com relação ao 1º item das premissas governamentais, é bom destacar que os 14.000 Km2 já licitados e concedidos, onde se encontram os blocos de Tupi, Júpiter e Carioca, cujas explorações são previstas para terem início até 2.012, não terão as suas regras modificadas.

Em termos políticos podemos vislumbrar a existência de duas correntes antagônicas nesse assunto: a dos chamados internacionalistas, que defendem ser esta a melhor oportunidade para que o país aproveite todos os recursos petrolíferos disponíveis e que receba o máximo de investimentos externos possíveis, para exploração e desenvolvimento da produção. Argumentam os defensores dessa corrente que com o preço em alta do barril de petróleo ( o que diante do início da recessão da economia norte-americana, já não é mais verdade ) a geração do cash flow do projeto é suficientemente adequada para remunerar todo e qualquer investimento de maior risco; a outra corrente existente seria a dos nacionalistas , que argumentam, com convicção, que o petróleo ainda é o principal agente das últimas guerras, invasões e inobservância da soberania de diversos países, da derrubada de governos e atentados terroristas. Assim, além do aspectos comerciais da questão, deveriam também ser levados em consideração todos os demais aspectos estratégicos e geopolíticos envolvidos.

No Congresso Nacional, é sabido que serão enfrentados grandes obstáculos na definição desta questão, considerando-se a atuação e influência das duas correntes acima descritas e que a combinação de interesses políticos contraditórios, pode retardar a expectativa de que o Brasil venha se tornar, em breve, um player global importante, no tabuleiro econômico e político do G-8.

Um outro aspecto, que também merece ser discutido, é o que fazer, a longo prazo, com o montante dos recursos oriundos da exploração do pré-sal. Sobre este tema é oportuno que lembremos que a dívida pública interna total, hoje estimada em US$ 850 bilhões, bem como a dívida externa, hoje estimada em US$ 90 bilhões poderiam , simplesmente, serem zeradas, com os recursos obtidos, após 4 anos do início das exploração do petróleo do pré-sal , somente se considerarmos a geração de impostos, num período estimado de 30 anos de exploração do projeto.

Podemos especular ainda que a verdadeira penúria em que se encontram as nossas Forças Armadas poderia ser completamente eliminada, com o resultado líquido de 2 anos da geração de impostos do projeto de exploração do pré-sal , assim como déficit da previdência pública e privada, estimado hoje em US$ 85,0 bilhões, poderia ser completamente eliminado em, aproximadamente, 4 meses.

Um outro parâmetro bastante instigante é que, pela primeira vez , a educação no Brasil poderia ser contemplada com recursos suficiente para que, num prazo máximo de 7 anos, podermos dar um verdadeiro salto na distribuição de renda do país e na eliminação das 5 maiores vergonhas nacionais, bastante conhecidas: a fome, o analfabetismo, o desemprego, a desqualificação profissional e a falta de moradia.

Por tudo o que acabamos de expor, esperamos que possa haver, a partir de um melhor conhecimento da questão por parte do povo brasileiro, um verdadeiro clamor patriótico, reunindo brasileiros de todas as matizes, mas, acima de tudo, com sangue verde-amarelo, para podermos levantar, bem alto, a nossa voz, e nos fazermos ouvir, em alto e bom som, pelos 5 continentes, dizendo a uma só voz : O Pré-Sal é Nosso !!!

A Ética dos Afetos, segundo Espinosa

Por Paulo Sergio A. Cruz
Professor Universitário, Economista, Consultor Técnico da Aliança Cooperativa Internacional –ICA - e Editor Chefe da revista Tendências do Trabalho – e-mail: psergiocruz@tendenciasdotrabalho.com


Bento Espinosa, nasceu na Holanda, em Amsterdã, no ano de 1.632. filho de pais judeus portugueses. Por época do seu nascimento, havia na Holanda Calvinista, uma certa tolerância com relação aos judeus , especialmente os mais abastados comerciantes (e esse era o caso de Miguel D’ Espinosa, pai de Bento Espinosa ) muito mais por razões econômicas do que religiosas.
Espinosa estudou em escolas judaicas e era fluente em quatro idiomas : Português, Espanhol, Hebraico e Holandês e mais tarde em Latim, a língua científica da época. Desde de cedo pode presenciar grades discussões teológicas, entre os rabinos que freqüentavam a sua residência e daí passou a se interessar mais pelo assunto, procurando ler as obras mais críticas da filosofia e do pensamento judaico.
Já aos 23 anos era acusado de ateísmo e foi expulso da comunidade judaica, passando então a compartilhar interesses intelectuais com pessoas que, como ele, contestavam vários dogmas teológicos.
Na sua obra Ética, Espinosa define Deus como sendo a Substância Única e a compreensão mais precisa de que o Homem pode se guiar de maneira livre pelo mundo, independentemente dos dogmas teológicos.
Dentro da chamada tradição judaico-cristã-ocidental, a paixão é avessa à natureza do Homem e o afasta tanto da virtude, como da sabedoria. Surge então a necessidade imperiosa da existência e da prática da fé, como sendo é o único sentimento capaz de realizar a natureza virtuosa, contida em cada ser humano.
De acordo ainda com esse raciocínio, a razão é incapaz de lutar sozinha contra a força dos vícios, que são todos originários do sentimento da paixão .Somente a fé, como uma dádiva divina, é capaz de controlar os impulsos passionais e a mesquinhez do Homem, libertando-o, dessa forma, do pecado.
Segundo Espinosa, esses conceitos teológicos clássicos , revelam uma extrema ignorância, pois as paixões não têm origem na incapacidade do Homem superá-las, mas sim por que a Substância Única (Deus), bem como tudo que é produzido por ela, inclusive o Homem, tem efeito determinado e, por essa razão, pode ser explicado pela Filosofia e não através da fé.
A sabedoria, de acordo com Espinosa, não se inscreve no domínio das paixões, mas em decorrência dos afetos, o que de certa forma fundamenta uma concepção de virtude bem peculiar e totalmente diversa desse mesmo conceito dentro da tradição judaico-cristã-ocidental.
Com relação a causa das paixões, diz Espinosa , que ela não pode ser o corpo do ser Humano, porque este, não tem nenhuma ação sobre a alma e vice-versa . Logo a infelicidade humana não reside no fato de possuirmos um corpo físico, que sujeita a alma a pensamentos irracionais. Nós somos seres afetivos, isso sim, segundo o Filósofo, porque estamos completamente imersos na Substância Infinita , que é Deus.
Por esse raciocínio, o Homem, que é um ser finito, é fruto de dois atributos infinitos, e portanto divinos : a Extensão ( o corpo físico ) e o pensamento ( a alma ). Concluindo, Espinosa afirma que o conhecimento por parte do Homem da sua participação infinita desses dois atributos divinos ( Extensão e Pensamento) é que propiciam que ele alcance a liberdade, habilitando-o, a partir daí, a compreender o seu modo de agir e o seu padecer, assimilando, de maneira clara e límpida, todos os limites da nossa liberdade e servidão.

Ao agir com pleno conhecimento desses dois conceitos, o Homem, segundo Espinosa, consegue então alcançar a expressão máxima da sabedoria e da felicidade.

O Aquecimento Global e a Escassez de Água

Por Paulo Sergio A. Cruz
Professor Universitário, Economista, Consultor Técnico da Aliança Cooperativa Internacional – ICA - e Editor Chefe da revista Tendências do Trabalho – e-mail : psergiocruz@tendenciasdotrabalho.com




Conforme é do conhecimento de todos, a Terra é composta por ¾ de água. Desse total, 97% é de água salgada, 2% de geleiras, praticamente inacessíveis ao Homem e apenas 1% de água doce.

Não é muito difícil de imaginar que, dentro de alguns anos, estaremos sofrendo com o grande problema da escassez de água doce no planeta, uma vez que a tecnologia de dessalinização , apesar de conhecida, tem ainda um custo maior na sua aplicação, comparado com os resultados alcançados.

O crescimento da população mundial é um outro fator que assusta bastante, na medida em que sabemos que, nos últimos 50 anos, pulamos de 2,5 bilhões de habitantes para, aproximadamente , 6,3 bilhões. A estimativa mais plausível, em função de dados estatísticos mais atualizados , é de que estejamos beirando a casa dos 11 bilhões de habitantes, no limiar de 2.050.

Existem estatísticas recentes da ONU, que apontam que , já em 2050, teremos cerca de 2,7 bilhões de habitantes, que só conseguirão sobreviver, com severas restrições com relação ao consumo de água.

Para complicar ainda mais a situação, a má gestão dos recursos naturais, o desperdício, o crescimento industrial acelerado dos países emergentes, com destaque para a China e Índia, a falta de infra-estruturas físicas mais adequadas, a burocracia, os interesses econômicos das nações mais desenvolvidas , têm contribuído, ainda mais, para agravar esse problema, que já é muito grave, que já está tomando cores de uma verdadeira catástrofe, previamente anunciada.

As últimas estatísticas da ONU de 2007, apontam para o impressionante número de 1 bilhão de pessoas que não têm acesso á água potável e 2,6 bilhões, representando mais de 40% da população mundial, que não contam com saneamento básico. Isto torna a situação ainda mais grave, quando sabemos que apenas um litro de esgoto, lançado por exemplo num rio, é capaz de poluir ou tornar imprópria para o consumo, mais de 100 litros de água.

Por outro lado, de acordo com estudos recentes das organizações responsáveis pela saúde, a falta de saneamento básico, já é responsável por mais de 80% das mortes entre crianças, sendo também responsável pela ocupação de mais de 50% dos leitos disponíveis, por exemplo, na rede hospitalar pública no Brasil , onde, a cada dia, cresce mais o número de internações de pessoas, acometidas por doenças, oriundas ou transmitidas pela contaminação da água.

Um outro fator de alarme nesse contexto é aquele que correlaciona o aumento do aquecimento global, com o aumento dos índices de evaporação de água no planeta. As previsões da ONU, neste caso, chegam a ser catastróficas a longo prazo , caso não sejam tomadas providências urgentes, principalmente quanto a validação e aceitação do protocolo de Kioto, por parte dos Estados Unidos e da China.

O Brasil possui 12% das reservas de água doce do planeta, cuja distribuição é a seguinte; 80% na região amazônica, e 20% restante, que atendem a 90% da população do país.
Os sistemas de abastecimento de água nas 9 regiões metropolitana mais importantes do país contam, basicamente, com a ocorrência de chuvas, em volume suficiente, para garantia do abastecimento de água. Caso esses níveis não ocorram, deixam como única alternativa possível o racionamento, que como bem sabemos, é uma solução onerosa, além de tremendamente desgastante.

Há mais de 30 anos, países ecologicamente mais responsáveis vêm criando diversos instrumentos de gestão e gerenciamento, no sentido de uma melhor preservação dos seus ecossistemas, bem como uma legislação mais adequada, com atualizações constantes, para esse fim, principalmente aquelas que visam a inibir comportamentos ecológicos indesejáveis, bem como normas que passam a incentivar práticas ambientalmente mais saudáveis, tudo isso com a finalidade da preservação dos meios hídricos disponíveis, cuja prioridade, conforme procuramos destacar nesse artigo, não pode mais ser relegada a um segundo plano. Ou preservamos agora o pouco que nos resta da água doce disponível no planeta ou seremos , irremediavelmente, condenados a conviver com a escassez desse precioso líquido, bem mais rápido do que podemos imaginar.

A Qualidade da Educação no Brasil

Por Paulo Sergio A. Cruz
Professor Universitário, Economista, Consultor Técnico da Aliança Cooperativa Internacional – ICA - e Editor Chefe da revista Tendências do Trabalho.- e-mail : psergiocruz@tendenciasdotrabalho.com



A UNESCO acaba de divulgar o seu relatório no final do mês de abril no qual analisa a qualidade da educação no mundo, com relação ao chamado compromisso “Educação Para Todos”, que fixa metas a serem alcançadas por todos os países participantes, até o ano de 2010.
As metas estabelecidas são 6, a saber: 1) Expandir a educação e o cuidado na primeira infância; 2) Garantir o acesso de todas as crianças em idade escolar à educação primária; 3) Ampliar as oportunidades de aprendizado de jovens e adultos; 4) melhorar em 50% as taxas de alfabetização de adultos; 5) Eliminar as disparidades de gênero na educação; 6) Melhorar todos os aspectos da qualidade da educação.
O relatório divulgado relaciona 129 países e o Brasil ocupa a 76ª posição, parecendo atrás da Argentina, Chile, Uruguai, Venezuela, Peru, Equador, Bolívia e até mesmo do Paraguai, apenas para citar os nossos vizinhos da América do Sul.
Para avaliar quantitativamente os desempenhos dos países analisados, a UNESCO criou um índice, chamado Índice de Desenvolvimento de Educação para Todos (IDE), que varia de zero (0) a um (1), calculado com base em dados relacionando quatro dos seis objetivos mencionados acima, a saber: a) % de crianças na escola – dado relacionado ao objetivo 2 ; b) % de alfabetização na população acima de 15 anos – dado relacionado ao objetivo 4; c) % de meninas e meninos na escola primária e no ensino médio – dado relacionado ao objetivo 5 ; d) % de crianças que atingem a 5ª série do ensino fundamental – dado relacionado ao objetivo 6.
O Brasil, com IDE de 0,901, tem alta chance de alcançar a meta relacionada ao objetivo 2, uma chance menor de alcançar a meta contida no objetivo 4, pouca chance de alcançar a meta contida no objetivo 5 e , também muito pouca chance de alcançar a meta contida no objetivo 6.
Os países constantes do relatório da UNESCO, com relação aos resultados alcançados na pesquisa mencionada , que toma por base dados coletados de 2005, , foram divididos em 3 blocos, a saber : 1º ) Países com IDE elevado ( índice acima de 0,951 ) - Este grupo é composto por 51 países, e relaciona aqueles que já atingiram as metas estabelecidas para 2010, como a Noruega, Reino Unido, Eslovênia e Suécia ou aqueles que, provavelmente, atingirão essas metas, sem grandes dificuldades, como o México, Argentina e Chile ; 2º ) Países com IDE médio ( índice entre 0,804 e 0,950 )- Este grupo é composto por 53 países que podem não atingir as metas estabelecidas ou ainda, que estão muito longe de poder atingi-las, como é o caso do Brasil, Indonésia, Egito e Colômbia, por exemplo ; 3º ) Países com IDE inferior ( índice abaixo de 0,804 ) - Este grupo é composto por 25 países que dificilmente atingirão as metas estabelecidas, como é o caso da Nigéria, Paquistão e Índia, por exemplo.
De acordo com uma das consultoras que trabalhou no levantamento do IDE, a escola pública no Brasil ensina pouco e ainda afasta uma parte expressiva dos alunos , ao longo doa anos, quer seja através do sistema de repetência, quer seja pela evasão escolar.
Fruto dessa análise desapaixonada, quando nos debruçamos detidamente sobre os números da pesquisa, verificamos, com tristeza, que 53,8% das crianças brasileiras, matriculadas no ensino fundamental, não concluem o curso e que este índice, apenas para exemplificar, é pior do que o índice de concluintes, alcançado em 1.999, que era del61,1% das criança que conseguiram concluir o ensino fundamental.
O ranking do IDE foi elaborado, pela primeira vez, em 2001 e naquela oportunidade, o Brasil ocupava a 72ª posição, o que pode muito bem não ser relacionado a uma queda de posição, mas , simplesmente, com a qualidade dos dados levantados, o que nos levaria, na melhor das hipótese, a concluir que estamos estacionados com relação ao IDE, em pelo menos a 5 anos.
Alguns números da educação no Brasil de 2006, segundo ainda estudo da Unesco, nos revelam alguns parâmetros que caracterizam muito bem a desigualdade neste setor, a saber: Ensino Infantil – somente 37,8% das crianças com idade entre zero (0) e 6 anos estão matriculados no Ensino Infantil, sendo 37,9% entre os meninos e 37,7% entre as meninas; Educação Fundamental - 94,8% das crianças com idade entre 7 e 14 anos estão matriculados no Ensino fundamental, sendo 94,8% entre os meninos e 94,9% entre as meninas; Ensino Médio - somente 46,9% dos jovens com idade entre 15 a 17 anos estão matriculados no Ensino Médio, sendo 41,9% entre os meninos e 52,0% entre as meninas ; Ensino Superior – somente 12% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos estão matriculados no Ensino Superior, não havendo dados disponíveis nesse nível no que se refere ao gênero.

A taxa de repetência na 1ª série do Ensino Fundamental no Brasil é maior não somente entre os nossos vizinhos na América do sul, como também entre os países mais populosos da Ásia e África, como china, Índia, Paquistão, Indonésia, Egito e até mesmo Bangladesh.

De acordo com um depoimento recente do atual Ministro da Educação, Fernando Haddad, o Brasil criou uma indústria da repetência e uma outra da aprovação automática . A primeira delas é uma decorrência do índice de pobreza ainda existente em nosso país, que prejudica o desenvolvimento dos neurônios das nossas crianças em idade tenra ( até 3 anos de idade), onde a má alimentação ou ainda a sua inadequação, causam malefícios irreparáveis. A segunda, ocasionada basicamente pela avidez com que prefeituras disputam os repasses do Ministério da Educação, que faz com que alunos despreparados sejam incluídos no sistema de aprovação automática. Se a esses dois fatores primordiais, juntamos a baixa qualificação do corpo docente, em parte reflexo dos salários miseráveis que são pagos ao professorado no Brasil, em especial no Ensino Fundamental, temos a explicação mais lógica para o desempenho medíocre do Brasil no setor de educação, o que envergonha a todos nós brasileiros, conscientes e responsáveis pelo futuro do nosso país.

Aumento nos Preços dos Alimentos : Estaria a Caminho uma Nova Crise Mundial ?

Por Paulo Sergio A. Cruz
Professor Universitário, Economista, Consultor Técnico da Aliança Cooperativa Internacional – ICA - e Editor Chefe da revista Tendências do Trabalho.- e-mail : psergiocruz@tendenciasdotrabalho.com


As altas taxas de crescimento em algumas economias emergentes, em especial na China, Índia e Rússia, têm causado, indiretamente, muitas controvérsias com relação aos aumentos de preços das chamadas commodities,com destaque para os preços nos alimentos.
Há uma preocupação, generalizada, entre analistas e especialistas nessa questão, que acenderam uma luz amarela, na relação consumo/produção, basicamente em função de uma melhor distribuição e crescimento na renda nesses mesmos países paises, o que, obviamente, se reflete diretamente num maior consumo de alimentos, cujas atuais taxas de crescimento da produção mundial , não estão sendo capazes de suportar esse nível de aumento no consumo.
Um outro fator, também de importância relevante nessa questão, é o aumento da produção de biocombustíveis, em especial o etanol fabricado a partir do milho nos Estados Unidos, que está levando as autoridades do Banco Mundial , inclusive, a recomendarem uma limitação na produção , com críticas, inclusive, ao programa brasileiro nessa área, o que na nossa opinião, são totalmente infundadas e injustas, em função do alto estoque de terras agricultáveis disponíveis na economia brasileira, além do fato do programa brasileiro de produção de álcool se basear na cultura de cana- de- açúcar. Pode-se ainda acrescentar que o Brasil, maior produtor de etanol de cana-de-açúcar no mundo nos últimos 30 anos é também hoje, o maior exportador de soja, açúcar, café, frango, suco de laranja, milho e carne bovina, o que só confirma o açodamento dessa tese.
Até mesmo no caso dos Estados Unidos, maior produtor mundial de etanol de milho, a crítica apontada não é totalmente correta, mesmo que consideremos os altos subsídios concedidos na produção do etanol, como também os baixos índices de produtividade na agricultura norte-americana. Esses fatores poderiam explicar, somente em parte, uma certa pressão sobre os preços dos alimentos, em especial os grãos, mas seriam insuficientes para explicar o fenômeno atual de elevação descontrolada nos preços das commodities.
É certo que o preço das commodities têm alcançado níveis alarmantes nos últimos cinco anos e isto pode ser facilmente verificado, quando tomamos o índice CCI ( Continuous Commodiity Index ), que mede a variação de preço de 17 produtos, dentre eles a soja, milho, açúcar, café, algodão, trigo, etc, que alcançou a incrível marca de +132% nesse mesmo período, dos quais, + 25% somente nos último 12 meses.
A inflação de alimentos na China, também nos últimos 12 meses , atingiu a impressionante marca de 23%, enquanto na Turquia alcançou, 12%, na Rússia, 18%, no Brasil 11% . Até mesmo na Argentina, ainda hoje considerada como grande produtor de alimentos no mundo, a inflação de alimentos bateu nos 7,5% nesse mesmo período, apesar de alguns especialistas lembrarem sempre, que existe hoje um certo grau de manipulação nos índices inflacionários naquele país.
É óbvio que não se pode negar que a incorporação de enormes contingentes de consumidores à economia global, especialmente na China e na Índia, em função do aumento real da renda nesses países, pressiona a demanda por alimentos. Por outro lado, também não se pode deixar de reconhecer que a mudança nos parâmetros, que norteiam a composição das matrizes energéticas no mundo, pressionada, cada vez mais, pela instabilidade política no oriente médio, refletida diretamente nos aumentos constantes dos preços do barril de petróleo ( acima dos U$ 110 hoje ), tornam quase que obrigatória a procura por fontes de energia renováveis e, por outro lado, não poluidoras.
Na visão de diversos especialistas no assunto, essa nova orientação política na produção de energia , se por um lado, garante a produção de alternativas energéticas mais limpas e menos poluidoras, por outro lado, com relação à produção de biocombustíveis, trazem, como conseqüência mais imediata, uma maior pressão sobre os preços dos alimentos no mundo.
Qual seria então o ponto de equilíbrio, entre as alternativas de aumento nos volumes da produção de alimentos, capaz de suprir um aumento no consumo , determinado por um melhor nível de renda nos países emergente, e uma possível diminuição nas áreas agriculturáveis no mundo, em função de um aumento na produção de biocombustíveis, tão necessária para estancar o aquecimento global ?
A resposta a esta questão não é tão simples, mas aponta para a manutenção de taxas de crescimento mais equilibradas no mundo, que não venham a pressionar os preços, de uma maneira geral, um maior nível de controle da inflação, com utilização de políticas monetárias adequadas, mais políticas de aumento de oferta, como instrumentos de controle dos preços, além de uma maior vigilância nos mercados financeiros especulativos, em especial os que se sustentam em preços futuros.
A recente crise no mercado financeiro norte-americano está nos indicando que o longo período de crescimento econômico na maior economia do planeta, baseado no aumento do crédito, está com seus dias contados, podendo-se até assegurar um certo nível de desaceleração da economia dos Estados Unidos nos próximos anos, sem contudo chegarmos a propalada recessão, mas que, de certa forma, servirá para arrefecer, inclusive, as grandes pressões por aumentos sobre os preços produtos agrícolas, nos próximos dois anos, pelo menos.
O Brasil possui hoje uma área agricultável disponível de mais de 90 milhões de hectares. O total da área utilizada na produção agrícola chega à casa dos 55 milhões de hectares, dos quais, somente cerca de 10% ( 5,5 milhões de hectares ) são utilizados com a produção de cana-de-açúcar.

O volume total de grãos produzidos pelo Brasil, nos últimos 18 anos, saltou de 57,9 milhões de toneladas para 140,0 milhões de toneladas, com um crescimento de 141,8% no volume, enquanto que a área utilizada cresceu apenas 25%, o que demonstra um expressivo aumento de produtividade, no mesmo período analisado ( + 93,4% ) .

A produção brasileira de álcool atualmente anda pela casa dos 15 bilhões de litros por ano, dos quais 85% são destinados ao consumo interno, enquanto que somente 15% são destinados à exportação.

Com relação à produção de biocombustíveis, até 2010, somente 1% da área agricultável disponível será destinada para a sua produção, dos quais 0,8% ao cultivo da cana-de-açúcar. Por outro lado, a produção de álcool em todo mundo, a partir da cana-de-açúcar, milho e beterraba, corresponde hoje a apenas a 1% de todo o volume de petróleo produzido no mundo.

Podemos ainda acrescentar a esta pequena análise numérica que a produção mundial de etanol, hoje , utiliza apenas 10 milhões de hectares de áreas agricultáveis disponíveis no planeta, para uma área total, ainda disponível, de cerca de 1 bilhão de hectares.

Para se substituir apenas 10% do que hoje se consome de gasolina seria necessário que a produção global de etanol alcançasse 150 bilhões de litros/ano . Desse mesmo total, para que o Brasil chegasse a produzir 110 bilhões de litros de etanol/ano ( o que é bastante factível ) seria necessário a ocupação de uma área equivalente à 75 milhões de hectares. Por outro lado, a produção mundial de etanol hoje chega à casa dos 42 bilhões de litros/ano, com uma área ocupada de cerca de 18 milhões de hectares, para uma demanda global estimada em 120 bilhões litros/ano.

Todos os números acima descritos servem apenas para demonstrar que existe um certo exagero nas análises catastróficas, que apontam que o aumento na produção do volume de biocombustiveis será a provável causadora de uma crise, ainda maior, na produção de alimentos no mundo, com reflexos imediatos na disparada dos preços dos alimentos e conseqüente aumento no nível de fome e desnutrição no mundo. Nem tanto ao mar, nem tanto à montanha.

Resumindo finalmente a questão, podemos dizer que o aumento na renda dos paises emergentes está ocasionando uma forte pressão nos preços dos alimentos em todo mundo. Que a mudança inexorável nas matrizes energéticas dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, por seu lado, também podem provocar uma certa diminuição nas áreas plantadas em todo mundo, em especial nos países ricos, onde são fortes os volumes de subsídios, de caráter protecionista, aliada à necessidade de produção de volumes, cada vez maiores, de biocombustíveis, que possam então neutralizar os riscos político e ambiental da dependência preponderante da produção do petróleo, como fator principal na matriz energética mundial. Essa situação, entretanto não é insuperável, a médio prazo, desde que haja uma visão correta dos problemas envolvidos e de suas implicações macro-econômicas, num mundo cada vez mais global e interdependente, no qual deve-se, cada vez mais, olhar pra fora do nosso próprio umbigo, se quisermos garantir o futuro da raça humana no planeta.

A Crise Econômica nos Estados Unidos

Por Paulo Sergio A. Cruz
Professor Universitário, Economista, Consultor Técnico da Aliança Cooperativa Internacional – ICA - e Editor Chefe da revista Tendências do Trabalho.- e-mail : psergiocruz@tendenciasdotrabalho.com




Os Estados Unidos são a nação mais rica do mundo, com um PIB aproximado de U$ 13, 86 trilhões, representando, aproximadamente , 25,3 % do PIB do mundo estimado em U$ 55,0 trilhões.
Nos últimos três meses a crise no mercado financeiro da mais rica e poderosa nação do mundo conseguiu transformar em pó, literalmente, cerca de US$ 7,74 trilhões , por conta do verdadeiro pânico que tomou conta das bolsas de valores no mundo inteiro.
Essa perda enorme, que diga-se de passagem é uma perda virtual, pois trata-se de valores negociados no chamado mercado de derivativos, no qual as apostas são feitas no mercado futuro e os apostadores se dividem em dois grupos: os ganhadores e os perdedores. A crise representou uma queda no valor de mercado das ações , nas bolsas de valores em todo mundo, que atingiram um nível global aproximado de US$ 54,84 trilhões, valor este abaixo, inclusive, do valor estimado no mês de agosto de 2007, o qual se acreditava, naquela época, ser o fundo do poço. A crise atual provou que o fundo do poço pode ser ainda mais baixo.
Numa explicação bem simples sobre a atual crise, podemos dizer que ela teve origem na expansão de crédito que resultou na explosão da chamada bolha imobiliária, atingindo duramente o mercado financeiro nos Estados Unidos, crise esta que, ao que tudo indica, poderá levar a economia mundial para um processo inexorável de recessão, depois de mais de 5 anos de grande prosperidade, a partir de 2001, quando os índices médios de crescimento do PIB da economia mundial bateram seguidos recordes de estimativas mais otimistas, situando-se em alguns anos acima de 5% a.a.
Os Estados Unidos, além da nação mais rica od mundo, são também o maior mercado consumidor do mundo, responsável por aproximadamente 16% de todas as importações mundiais, que são estimadas em cerca de US4 16,5 trilhões.
Os melhores analistas financeiros em todo mundo costumam dizer que quando os Estados Unidos espirram o mundo inteiro poder ficar resfriado e que as conseqüências da atual crise, tendem a se espalhar, de maneira difusa, pelo mercado internacional como um todo, com diminuição das exportações do resto do mundo para os Estados Unidos, e a conseqüente redução nos saldos comercias nesses paises para com os Estados Unidos, além dos decorrentes reflexos sobre os preços de mercadorias e serviços nesses mesmos países.
O sistema financeiro internacional, dad o avanço tecnológico das comunicações e as sofisticações decorrentes da utilizações de modelos matemáticos, baseados nas chamadas expectativas racionais, que deram o prêmio Nobel de Economia a Robert Lucas, geraram uma esfinge que hoje carece de uma enorme atenção, por parte das autoridades e especialista do ramo, os quais estão sentindo uma necessidade premente do advento de novos marcos regulatórios e de mecanismo mais eficientes para o mercado financeiro mundial, que sejam capazes de detectar crises futuras e indicar ações antecipatórias, dentro desse sofisticada malha de instrumentos e ferramentas práticas, que devem, sobretudo, se mostrar suficientes, além de necessários, para monitorar o avanço da tecnologia e desenvolvimento de modelos matemáticos, aplicados pelos diversos operadores do mercado financeiro em todo o mundo.
A chamada bolha imobiliária que atingiu os Estados Unidos, teve origem numa valorização vigorosa no valor dos imóveis residenciais nos últimos 5 anos ( cerca de 85% em termos reais), aliada à expansão do crédito, política monetária adotada pelo FED, no sentido de manter o aumento de consumo das famílias e conter a inflação .
No último triênio, o mercado de hipotecas nos Estados Unidos movimentou uma cifra aproximada de U$ 9 trilhões, dos quais as chamadas títulos subprime representaram 20% ou cerca de US$ 1,8 trilhões.
No início dessa ciranda, a valorização dos imóveis, permitia aos tomadores de empréstimos a liquidação e renovação dos seus financiamentos, com novos financiamento dos bancos, que emitiam novos títulos no mercado de capitais, via fundos de investimentos, os quais eram sempre lastreados por uma cesta de títulos lastreados em hipotecas, com taxas de risco diversas, diluindo dessa forma todos os riscos dos chamados títulos podres e dessa forma, viabilizando a emissão de outros novos títulos de crédito, que eram colocados à venda no mercado de derivativos.
Estima-se hoje que cerca de 80% dos chamados subprimes foram securitizados por esse engenhoso sistema, o qual deu origem, inclusive, à criação das chamadas Empresas de Investimentos Estruturados, que se responsabilizavam pela colocação e venda desses novos títulos no mercado financeiro, oferecendo taxas de rentabilidade a curto prazo, altamente atrativas.
No início de 2007 o preço dos imóveis no mercado imobiliário começaram a cair, o que gerou um enorme índice de inadimplências nas hipotecas imobiliárias, obrigando aos portadores de títulos dos fundos de investimentos estruturados a venderem rapidamente os seus papéis, para não amargarem maiores prejuízos. Daí para o alastramento de um verdadeiro pânico entre investidores, querendo minimizar suas perdas e os bancos, financiadores da ciranda, querendo receber empréstimos concedidos, foi um simples pulo.
Já no final de 2006, os analistas de mercado mais atentos, prognosticavam uma retração forte no mercado imobiliário norte-americano, a qual veio resultar nos primeiros impactos financeiros no sistema bancário já em 2007.
A esses sinais preocupantes , a ação do FED se fez presente, no sentido de debelar as primeiras fagulhas da crise, com cortes significativos nas taxas de juros, visando, basicamente, alimentar o aumento no consumo das famílias, responsável em última análise pela sustentação do crescimento do PIB norte-americano dos últimos 4 anos, e também para conter o aumento nos preços.
A grande indagação que se coloca nesse momento é de qual será a intensidade da atual crise no mercado financeiro norte-americano ? Será de curto, médio ou de longo prazo ? Quais serão os seus principais reflexos nas demais economias mundiais, em especial nos paises emergentes como o Brasil, Rússia, China e Índia ?
Em termos de Brasil, apesar de não podermos nos considerar como uma ilha imune dentro dessa crise, podemos garantir que todos os nossos atuais fundamentos econômicos são bastante sólidos, e que a nossa vulnerabilidade externa é bem pequena S a crise não se estender além de 2008, não devemos temer amargar grandes impactos em nossa economia, pois até mesmo o crescimento do PIB do país em 2008, até onde podemos vislumbrar, está garantido entre 4,5 % e 5 % .

O Fim do Monopólio do Urânio no Brasil

Por Paulo Sergio A. Cruz
Professor Universitário, Economista, Consultor Técnico da Aliança Cooperativa Internacional – ICA - e Editor Chefe da revista Tendências do Trabalho.- e-mail : psergiocruz@tendenciasdotrabalho.com


As grandes mineradoras brasileiras estão de olho num novo filão de mercado. Esse mercado potencial, mobiliza hoje no mundo cerca de U$ 12 bilhões. É o mercado de compra e venda de urânio, que no Brasil ainda é monopólio do estado.
O Brasil possui a sexta maior reserva de urânio do mundo , totalizando cerca de 309.370 mil toneladas de urânio, das quais, 177.500 mil toneladas medidas e 131.870 mil toneladas inferidas. As maiores reservas brasileiras encontram-se nos Estados da Bahia ( Caetité, com 94.000 toneladas) e Ceará ( Santa Quitéria, com 83.000 toneladas).
As reservas mundiais de urânio somam, aproximadamente 4.416 milhões de toneladas, sendo o Cazaquistão, com 957 milhões de toneladas, a Austrália, com 910 milhões de toneladas, a África do Sul, com 369 milhões de toneladas e os Estados Unidos, com 355 milhões de toneladas, onde se encontram as maiores reservas de urânio do mundo.
Em termos de produção mundial de urânio, a liderança pertence ao Canadá, com 9, 562 mil toneladas, seguido da Austrália, com 7,593 mil toneladas, Cazaquistão, com 5,279 mil toneladas e Niger, com 3,434 mil toneladas.
Com relação à participação do urânio, através da operação de centrais nucleares , geradoras de energia, nas matrizes energéticas do mundo, podemos destacar a Lituânia, com 79,6%, a França, com 78,5%, a Eslováquia, com 56,1%, a Bélgica, com 55,6% e a Ucrânia, com 48,5%. No Brasil a participação de centrais nucleares na geração de energia ainda é apenas, 2,2%.
De acordo com o Planejamento de Longo Prazo da matriz energética brasileira, nos próximos 20 anos , esse percentual deve ficar na casa dos 5%, isto levando-se em consideração a construção da Usina de angra III ( já decidia), com capacidade de geração de 1.200 Megawatts de energia, mais 2 usinas nucleares localizadas no norte do estado de São Paulo, com capacidade de geração de cerca de 1.000 Megawatts cada uma e mais 2 usinas nucleares, com capacidade de geração de cerca de 600 Megawatts, cada uma, que deverão ser construídas no Nordeste.
A produção de urânio enriquecido no Brasil e de responsabilidade das Indústrias Nucleares Brasileiras ( INB) , com sede em Resende, no Estado do Rio de Janeiro, que se utiliza de tecnologia genuinamente brasileira, desenvolvida pela Marinha brasileira, na planta experimental de Aramar, onde se encontra em gestação, a mais de 20 anos, o projeto de construção, e mais do que isso, abastecimento de combustível, do primeiro submarino brasileiro movido à propulsão nuclear.
O plano da INB é de quadruplicar o atual nível de produção de urânio enriquecido até o ano de 2012, não só para atender as demandas geradas pelo abastecimento de urânio enriquecido para as Usinas de Angra I, II E III, como também atender às demandas futuras, necessárias a partir da construção de mais 4 novas usinas nucleares, já previstas no Planejamento de Longo Prazo a Eletrobrás.
A Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, começa nesta semana a discutir a possibilidade de flexibilização do monopólio estatal sobre prospecção, pesquisa, mineração, produção e comercialização de urânio, conforme determinação do Presidente dessa Comissão, o Deputado José Otávio Germano, através de um grupo de trabalho, coordenado pelo Deputado Ciro Pedrosa, que pretende iniciar os trabalho, ouvindo especialistas do setor privado e técnicos governamentais, sobre o assunto.
Tal interesse pode ser facilmente explicado pela explosão dos preços do urânio no mercado internacional. A libra-peso do produto ( 450 gramas) saltou de U$ 12 em 2004, para U$ 90 em setembro último, tendo chegado até U$ 135 no mês de junho p.p. e com viés de alta para os próximos anos, a partir da previsão do Conselho Mundial de Energia, que previu a duplicação da geração de energia nuclear no mundo, entre os anos de 2020 e 2050.

A Valorização do Profissional mais Qualificado

Por Paulo Sergio A. Cruz
Professor Universitário, Economista, Consultor Técnico da Aliança Cooperativa Internacional – ICA - e Editor Chefe da revista Tendências do Trabalho.- e-mail : psergiocruz@tendenciasdotrabalho.com


A baixa oferta de profissionais qualificados no mercado de trabalho, deve garantir o crescimento maior da remuneração desses mesmos profissionais nos próximos anos. Esse fenômeno, que é quase axiomático, entretanto, pode trazer como conseqüência imediata a queda nos ganhos obtidos na redução dos índices de desigualdade, sob a ótica da distribuição de renda.

Nas últimas décadas temos observado uma melhoria acentuada na distribuição de renda no país, fruto basicamente da estabilidade econômica, do controle inflacionário e de ganhos de produtividade, obtidos na economia brasileira como um todo.

As perspectivas reais de um crescimento nos próximos anos, em torno de 55 a.a, projetados para o PIB do país pelos principais pesquisadores do assunto e entidades voltadas para esse fim, traz no seu bojo uma tendência quase perversa: o salários dos trabalhadores mais qualificados deve subir mais do que a média dos demais salários. Como o número de trabalhadores mais qualificados é pouco representativa , diante da massa geral de trabalhadores, a distância projetada entre o topo da pirâmide e a base no mercado de trabalho tende a se reduzir mais lentamente, e essa conseqüência vai de encontro ao que ocorreu nos últimos anos.

A queda nos índices de desigualdade no país s recentemente, ocorreu em razão do sistema educacional brasileiro se apresentar mais homogêneo, quando comparado como, por exemplo, acerca de 15 anos atrás, onde somente a elite tinha acesso à educação. O aumento no nível de escolaridade da camada mais pobre da população brasileira, especialmente entre os jovens, diminuiu, sensivelmente, os diferenciais de salários entre o topo e base da pirâmide.

A título de explicitação do que estamos falando, podemos lembrar, por exemplo, que em 1.996, apenas 16,2% da população brasileira em idade escolar, havia completado o ensino médio. Esse mesmo índice hoje, já alcança a 29,2%, embora ainda esteja mito longe dos padrões buscados pelas empresas, pois é bom lembrar também que apenas cerca de 15% dos jovens, com faixa etária de 24 anos chegam a freqüentar uma universidade. Alguns especialistas no assunto, chegam a fazer uma comparação, bastante plausível, com o chamado milagre econômico, ocorrido na década de 70, no qual o país cresceu a taxas acima de 8% a.a, mas no qual, a desigualdade se ampliou , inquestionavelmente, em razão da grande concentração dos aumentos salariais entre o nicho daqueles que possuíam maiores níveis de educação: a elite de então.

Quando fazemos uma pequena análise nas estatísticas disponíveis sobre os rendimentos do trabalho, constatamos que os trabalhadores que ganhavam acima de R$ 11.3231, portanto os mais ricos e mais qualificados, representando cerca de 1 % do total , tiveram aumentos reais de aproximadamente 13,2%, que são comparados com 12,1 %, de aumento, obtidos pela média geral dos trabalhadores. A explicação é relativamente simples: com falta de investimentos na educação, os trabalhadores mais qualificados e com melhor nível educacional, passaram a ganhar mais. Por outro lado, o encarecimento dos investimentos e a redução nos níveis de competitividade das empresas, são conseqüências inevitáveis do fenômeno acima mencionado, pois uma empresa, sem um corpo de funcionários bem qualificados , se torna bem mais lenta na adaptação às inovações tecnológicas, cuja velocidade é cada maior nesse mundo global.
A conclusão que podemos chegar, diante do panorama acima descrito, é de que cada vez é mais premente o aumento no nível educacional dos nossos trabalhadores, seja através da criação de novas escolas técnicas, seja através do aumento no nível de jovens que têm acesso à universidade. Somente esse binômio será capaz de diminuir, cada vez mais e de maneira constante, o “Gap” existente entre o trabalhadores mais pobres e os mais ricos no mercado de trabalho no Brasil.

O Rotary e a Bioética

da ciência, ou estaríamos condenados a assistir, sem qualquer tipo de reação ou repulsa, a vigência da máxima contida no “Príncipe” de Maquiavel, segundo a qual “ os fins justificam os meios” ?

Na pesquisa científica moderna, em função das razões acima expostas, surgiu a Bioética, que de uma maneira bastante abrangente, poderia ser definida como sendo a “ética da vida”, numa clara evolução ao conceito clássico grego de Hipócrates, quando define o chamado “código de ética médica”.

No limite, se ampliarmos o novo conceito ao campo da filosofia moral, encontraremos alguns autores que chegam a definir a Bioética, como sendo a ética aplicada aos atos de um determinado ser humano, que estabelecem reflexos irreversíveis, num outro ser humanos, ou até mesmo em qualquer outro ser vivo.

O termo Bioética foi cunhado pelo cientista norte-americano Van Potter, numa época em ( 1.971 ) que começaram a proliferar algumas críticas, bastante contundentes, à utilização, indiscriminada e sem qualquer critério, de cobaias em experiências científicas.

No Brasil podemos detectar que o tema já conta com uma razoável produção intelectual, a partir do início dos anos 90, cuja aplicação encontra-se hoje basicamente restrita aos grandes centros de pesquisas com células troncos e genomas, como o Instituto Nacional do Câncer no Rio de Janeiro.

Em 2005 foi publica pela UNESCO, a chamada “Declaração Universal da Bioética e Direitos Humanos” , que teve uma destacada participação do Rotary, em especial de companheiros médicos rotarianos. Conforme todos nós sabemos, o Rotary é a única organização civil, não governamental, que tem assento permanente na ONU e que se preocupa com a difusão, propagação e aplicação de princípios éticos nas relações sociais, familiares, profissionais e nos negócios.