segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A Ética dos Afetos, segundo Espinosa

Por Paulo Sergio A. Cruz
Professor Universitário, Economista, Consultor Técnico da Aliança Cooperativa Internacional –ICA - e Editor Chefe da revista Tendências do Trabalho – e-mail: psergiocruz@tendenciasdotrabalho.com


Bento Espinosa, nasceu na Holanda, em Amsterdã, no ano de 1.632. filho de pais judeus portugueses. Por época do seu nascimento, havia na Holanda Calvinista, uma certa tolerância com relação aos judeus , especialmente os mais abastados comerciantes (e esse era o caso de Miguel D’ Espinosa, pai de Bento Espinosa ) muito mais por razões econômicas do que religiosas.
Espinosa estudou em escolas judaicas e era fluente em quatro idiomas : Português, Espanhol, Hebraico e Holandês e mais tarde em Latim, a língua científica da época. Desde de cedo pode presenciar grades discussões teológicas, entre os rabinos que freqüentavam a sua residência e daí passou a se interessar mais pelo assunto, procurando ler as obras mais críticas da filosofia e do pensamento judaico.
Já aos 23 anos era acusado de ateísmo e foi expulso da comunidade judaica, passando então a compartilhar interesses intelectuais com pessoas que, como ele, contestavam vários dogmas teológicos.
Na sua obra Ética, Espinosa define Deus como sendo a Substância Única e a compreensão mais precisa de que o Homem pode se guiar de maneira livre pelo mundo, independentemente dos dogmas teológicos.
Dentro da chamada tradição judaico-cristã-ocidental, a paixão é avessa à natureza do Homem e o afasta tanto da virtude, como da sabedoria. Surge então a necessidade imperiosa da existência e da prática da fé, como sendo é o único sentimento capaz de realizar a natureza virtuosa, contida em cada ser humano.
De acordo ainda com esse raciocínio, a razão é incapaz de lutar sozinha contra a força dos vícios, que são todos originários do sentimento da paixão .Somente a fé, como uma dádiva divina, é capaz de controlar os impulsos passionais e a mesquinhez do Homem, libertando-o, dessa forma, do pecado.
Segundo Espinosa, esses conceitos teológicos clássicos , revelam uma extrema ignorância, pois as paixões não têm origem na incapacidade do Homem superá-las, mas sim por que a Substância Única (Deus), bem como tudo que é produzido por ela, inclusive o Homem, tem efeito determinado e, por essa razão, pode ser explicado pela Filosofia e não através da fé.
A sabedoria, de acordo com Espinosa, não se inscreve no domínio das paixões, mas em decorrência dos afetos, o que de certa forma fundamenta uma concepção de virtude bem peculiar e totalmente diversa desse mesmo conceito dentro da tradição judaico-cristã-ocidental.
Com relação a causa das paixões, diz Espinosa , que ela não pode ser o corpo do ser Humano, porque este, não tem nenhuma ação sobre a alma e vice-versa . Logo a infelicidade humana não reside no fato de possuirmos um corpo físico, que sujeita a alma a pensamentos irracionais. Nós somos seres afetivos, isso sim, segundo o Filósofo, porque estamos completamente imersos na Substância Infinita , que é Deus.
Por esse raciocínio, o Homem, que é um ser finito, é fruto de dois atributos infinitos, e portanto divinos : a Extensão ( o corpo físico ) e o pensamento ( a alma ). Concluindo, Espinosa afirma que o conhecimento por parte do Homem da sua participação infinita desses dois atributos divinos ( Extensão e Pensamento) é que propiciam que ele alcance a liberdade, habilitando-o, a partir daí, a compreender o seu modo de agir e o seu padecer, assimilando, de maneira clara e límpida, todos os limites da nossa liberdade e servidão.

Ao agir com pleno conhecimento desses dois conceitos, o Homem, segundo Espinosa, consegue então alcançar a expressão máxima da sabedoria e da felicidade.

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