Por Paulo Sergio A. Cruz
Professor Universitário, Economista, Consultor Técnico da Aliança Cooperativa Internacional – ICA - e Editor Chefe da revista Tendências do Trabalho.- e-mail : psergiocruz@tendenciasdotrabalho.com
As altas taxas de crescimento em algumas economias emergentes, em especial na China, Índia e Rússia, têm causado, indiretamente, muitas controvérsias com relação aos aumentos de preços das chamadas commodities,com destaque para os preços nos alimentos.
Há uma preocupação, generalizada, entre analistas e especialistas nessa questão, que acenderam uma luz amarela, na relação consumo/produção, basicamente em função de uma melhor distribuição e crescimento na renda nesses mesmos países paises, o que, obviamente, se reflete diretamente num maior consumo de alimentos, cujas atuais taxas de crescimento da produção mundial , não estão sendo capazes de suportar esse nível de aumento no consumo.
Um outro fator, também de importância relevante nessa questão, é o aumento da produção de biocombustíveis, em especial o etanol fabricado a partir do milho nos Estados Unidos, que está levando as autoridades do Banco Mundial , inclusive, a recomendarem uma limitação na produção , com críticas, inclusive, ao programa brasileiro nessa área, o que na nossa opinião, são totalmente infundadas e injustas, em função do alto estoque de terras agricultáveis disponíveis na economia brasileira, além do fato do programa brasileiro de produção de álcool se basear na cultura de cana- de- açúcar. Pode-se ainda acrescentar que o Brasil, maior produtor de etanol de cana-de-açúcar no mundo nos últimos 30 anos é também hoje, o maior exportador de soja, açúcar, café, frango, suco de laranja, milho e carne bovina, o que só confirma o açodamento dessa tese.
Até mesmo no caso dos Estados Unidos, maior produtor mundial de etanol de milho, a crítica apontada não é totalmente correta, mesmo que consideremos os altos subsídios concedidos na produção do etanol, como também os baixos índices de produtividade na agricultura norte-americana. Esses fatores poderiam explicar, somente em parte, uma certa pressão sobre os preços dos alimentos, em especial os grãos, mas seriam insuficientes para explicar o fenômeno atual de elevação descontrolada nos preços das commodities.
É certo que o preço das commodities têm alcançado níveis alarmantes nos últimos cinco anos e isto pode ser facilmente verificado, quando tomamos o índice CCI ( Continuous Commodiity Index ), que mede a variação de preço de 17 produtos, dentre eles a soja, milho, açúcar, café, algodão, trigo, etc, que alcançou a incrível marca de +132% nesse mesmo período, dos quais, + 25% somente nos último 12 meses.
A inflação de alimentos na China, também nos últimos 12 meses , atingiu a impressionante marca de 23%, enquanto na Turquia alcançou, 12%, na Rússia, 18%, no Brasil 11% . Até mesmo na Argentina, ainda hoje considerada como grande produtor de alimentos no mundo, a inflação de alimentos bateu nos 7,5% nesse mesmo período, apesar de alguns especialistas lembrarem sempre, que existe hoje um certo grau de manipulação nos índices inflacionários naquele país.
É óbvio que não se pode negar que a incorporação de enormes contingentes de consumidores à economia global, especialmente na China e na Índia, em função do aumento real da renda nesses países, pressiona a demanda por alimentos. Por outro lado, também não se pode deixar de reconhecer que a mudança nos parâmetros, que norteiam a composição das matrizes energéticas no mundo, pressionada, cada vez mais, pela instabilidade política no oriente médio, refletida diretamente nos aumentos constantes dos preços do barril de petróleo ( acima dos U$ 110 hoje ), tornam quase que obrigatória a procura por fontes de energia renováveis e, por outro lado, não poluidoras.
Na visão de diversos especialistas no assunto, essa nova orientação política na produção de energia , se por um lado, garante a produção de alternativas energéticas mais limpas e menos poluidoras, por outro lado, com relação à produção de biocombustíveis, trazem, como conseqüência mais imediata, uma maior pressão sobre os preços dos alimentos no mundo.
Qual seria então o ponto de equilíbrio, entre as alternativas de aumento nos volumes da produção de alimentos, capaz de suprir um aumento no consumo , determinado por um melhor nível de renda nos países emergente, e uma possível diminuição nas áreas agriculturáveis no mundo, em função de um aumento na produção de biocombustíveis, tão necessária para estancar o aquecimento global ?
A resposta a esta questão não é tão simples, mas aponta para a manutenção de taxas de crescimento mais equilibradas no mundo, que não venham a pressionar os preços, de uma maneira geral, um maior nível de controle da inflação, com utilização de políticas monetárias adequadas, mais políticas de aumento de oferta, como instrumentos de controle dos preços, além de uma maior vigilância nos mercados financeiros especulativos, em especial os que se sustentam em preços futuros.
A recente crise no mercado financeiro norte-americano está nos indicando que o longo período de crescimento econômico na maior economia do planeta, baseado no aumento do crédito, está com seus dias contados, podendo-se até assegurar um certo nível de desaceleração da economia dos Estados Unidos nos próximos anos, sem contudo chegarmos a propalada recessão, mas que, de certa forma, servirá para arrefecer, inclusive, as grandes pressões por aumentos sobre os preços produtos agrícolas, nos próximos dois anos, pelo menos.
O Brasil possui hoje uma área agricultável disponível de mais de 90 milhões de hectares. O total da área utilizada na produção agrícola chega à casa dos 55 milhões de hectares, dos quais, somente cerca de 10% ( 5,5 milhões de hectares ) são utilizados com a produção de cana-de-açúcar.
O volume total de grãos produzidos pelo Brasil, nos últimos 18 anos, saltou de 57,9 milhões de toneladas para 140,0 milhões de toneladas, com um crescimento de 141,8% no volume, enquanto que a área utilizada cresceu apenas 25%, o que demonstra um expressivo aumento de produtividade, no mesmo período analisado ( + 93,4% ) .
A produção brasileira de álcool atualmente anda pela casa dos 15 bilhões de litros por ano, dos quais 85% são destinados ao consumo interno, enquanto que somente 15% são destinados à exportação.
Com relação à produção de biocombustíveis, até 2010, somente 1% da área agricultável disponível será destinada para a sua produção, dos quais 0,8% ao cultivo da cana-de-açúcar. Por outro lado, a produção de álcool em todo mundo, a partir da cana-de-açúcar, milho e beterraba, corresponde hoje a apenas a 1% de todo o volume de petróleo produzido no mundo.
Podemos ainda acrescentar a esta pequena análise numérica que a produção mundial de etanol, hoje , utiliza apenas 10 milhões de hectares de áreas agricultáveis disponíveis no planeta, para uma área total, ainda disponível, de cerca de 1 bilhão de hectares.
Para se substituir apenas 10% do que hoje se consome de gasolina seria necessário que a produção global de etanol alcançasse 150 bilhões de litros/ano . Desse mesmo total, para que o Brasil chegasse a produzir 110 bilhões de litros de etanol/ano ( o que é bastante factível ) seria necessário a ocupação de uma área equivalente à 75 milhões de hectares. Por outro lado, a produção mundial de etanol hoje chega à casa dos 42 bilhões de litros/ano, com uma área ocupada de cerca de 18 milhões de hectares, para uma demanda global estimada em 120 bilhões litros/ano.
Todos os números acima descritos servem apenas para demonstrar que existe um certo exagero nas análises catastróficas, que apontam que o aumento na produção do volume de biocombustiveis será a provável causadora de uma crise, ainda maior, na produção de alimentos no mundo, com reflexos imediatos na disparada dos preços dos alimentos e conseqüente aumento no nível de fome e desnutrição no mundo. Nem tanto ao mar, nem tanto à montanha.
Resumindo finalmente a questão, podemos dizer que o aumento na renda dos paises emergentes está ocasionando uma forte pressão nos preços dos alimentos em todo mundo. Que a mudança inexorável nas matrizes energéticas dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, por seu lado, também podem provocar uma certa diminuição nas áreas plantadas em todo mundo, em especial nos países ricos, onde são fortes os volumes de subsídios, de caráter protecionista, aliada à necessidade de produção de volumes, cada vez maiores, de biocombustíveis, que possam então neutralizar os riscos político e ambiental da dependência preponderante da produção do petróleo, como fator principal na matriz energética mundial. Essa situação, entretanto não é insuperável, a médio prazo, desde que haja uma visão correta dos problemas envolvidos e de suas implicações macro-econômicas, num mundo cada vez mais global e interdependente, no qual deve-se, cada vez mais, olhar pra fora do nosso próprio umbigo, se quisermos garantir o futuro da raça humana no planeta.
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