segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A Crise Econômica nos Estados Unidos

Por Paulo Sergio A. Cruz
Professor Universitário, Economista, Consultor Técnico da Aliança Cooperativa Internacional – ICA - e Editor Chefe da revista Tendências do Trabalho.- e-mail : psergiocruz@tendenciasdotrabalho.com




Os Estados Unidos são a nação mais rica do mundo, com um PIB aproximado de U$ 13, 86 trilhões, representando, aproximadamente , 25,3 % do PIB do mundo estimado em U$ 55,0 trilhões.
Nos últimos três meses a crise no mercado financeiro da mais rica e poderosa nação do mundo conseguiu transformar em pó, literalmente, cerca de US$ 7,74 trilhões , por conta do verdadeiro pânico que tomou conta das bolsas de valores no mundo inteiro.
Essa perda enorme, que diga-se de passagem é uma perda virtual, pois trata-se de valores negociados no chamado mercado de derivativos, no qual as apostas são feitas no mercado futuro e os apostadores se dividem em dois grupos: os ganhadores e os perdedores. A crise representou uma queda no valor de mercado das ações , nas bolsas de valores em todo mundo, que atingiram um nível global aproximado de US$ 54,84 trilhões, valor este abaixo, inclusive, do valor estimado no mês de agosto de 2007, o qual se acreditava, naquela época, ser o fundo do poço. A crise atual provou que o fundo do poço pode ser ainda mais baixo.
Numa explicação bem simples sobre a atual crise, podemos dizer que ela teve origem na expansão de crédito que resultou na explosão da chamada bolha imobiliária, atingindo duramente o mercado financeiro nos Estados Unidos, crise esta que, ao que tudo indica, poderá levar a economia mundial para um processo inexorável de recessão, depois de mais de 5 anos de grande prosperidade, a partir de 2001, quando os índices médios de crescimento do PIB da economia mundial bateram seguidos recordes de estimativas mais otimistas, situando-se em alguns anos acima de 5% a.a.
Os Estados Unidos, além da nação mais rica od mundo, são também o maior mercado consumidor do mundo, responsável por aproximadamente 16% de todas as importações mundiais, que são estimadas em cerca de US4 16,5 trilhões.
Os melhores analistas financeiros em todo mundo costumam dizer que quando os Estados Unidos espirram o mundo inteiro poder ficar resfriado e que as conseqüências da atual crise, tendem a se espalhar, de maneira difusa, pelo mercado internacional como um todo, com diminuição das exportações do resto do mundo para os Estados Unidos, e a conseqüente redução nos saldos comercias nesses paises para com os Estados Unidos, além dos decorrentes reflexos sobre os preços de mercadorias e serviços nesses mesmos países.
O sistema financeiro internacional, dad o avanço tecnológico das comunicações e as sofisticações decorrentes da utilizações de modelos matemáticos, baseados nas chamadas expectativas racionais, que deram o prêmio Nobel de Economia a Robert Lucas, geraram uma esfinge que hoje carece de uma enorme atenção, por parte das autoridades e especialista do ramo, os quais estão sentindo uma necessidade premente do advento de novos marcos regulatórios e de mecanismo mais eficientes para o mercado financeiro mundial, que sejam capazes de detectar crises futuras e indicar ações antecipatórias, dentro desse sofisticada malha de instrumentos e ferramentas práticas, que devem, sobretudo, se mostrar suficientes, além de necessários, para monitorar o avanço da tecnologia e desenvolvimento de modelos matemáticos, aplicados pelos diversos operadores do mercado financeiro em todo o mundo.
A chamada bolha imobiliária que atingiu os Estados Unidos, teve origem numa valorização vigorosa no valor dos imóveis residenciais nos últimos 5 anos ( cerca de 85% em termos reais), aliada à expansão do crédito, política monetária adotada pelo FED, no sentido de manter o aumento de consumo das famílias e conter a inflação .
No último triênio, o mercado de hipotecas nos Estados Unidos movimentou uma cifra aproximada de U$ 9 trilhões, dos quais as chamadas títulos subprime representaram 20% ou cerca de US$ 1,8 trilhões.
No início dessa ciranda, a valorização dos imóveis, permitia aos tomadores de empréstimos a liquidação e renovação dos seus financiamentos, com novos financiamento dos bancos, que emitiam novos títulos no mercado de capitais, via fundos de investimentos, os quais eram sempre lastreados por uma cesta de títulos lastreados em hipotecas, com taxas de risco diversas, diluindo dessa forma todos os riscos dos chamados títulos podres e dessa forma, viabilizando a emissão de outros novos títulos de crédito, que eram colocados à venda no mercado de derivativos.
Estima-se hoje que cerca de 80% dos chamados subprimes foram securitizados por esse engenhoso sistema, o qual deu origem, inclusive, à criação das chamadas Empresas de Investimentos Estruturados, que se responsabilizavam pela colocação e venda desses novos títulos no mercado financeiro, oferecendo taxas de rentabilidade a curto prazo, altamente atrativas.
No início de 2007 o preço dos imóveis no mercado imobiliário começaram a cair, o que gerou um enorme índice de inadimplências nas hipotecas imobiliárias, obrigando aos portadores de títulos dos fundos de investimentos estruturados a venderem rapidamente os seus papéis, para não amargarem maiores prejuízos. Daí para o alastramento de um verdadeiro pânico entre investidores, querendo minimizar suas perdas e os bancos, financiadores da ciranda, querendo receber empréstimos concedidos, foi um simples pulo.
Já no final de 2006, os analistas de mercado mais atentos, prognosticavam uma retração forte no mercado imobiliário norte-americano, a qual veio resultar nos primeiros impactos financeiros no sistema bancário já em 2007.
A esses sinais preocupantes , a ação do FED se fez presente, no sentido de debelar as primeiras fagulhas da crise, com cortes significativos nas taxas de juros, visando, basicamente, alimentar o aumento no consumo das famílias, responsável em última análise pela sustentação do crescimento do PIB norte-americano dos últimos 4 anos, e também para conter o aumento nos preços.
A grande indagação que se coloca nesse momento é de qual será a intensidade da atual crise no mercado financeiro norte-americano ? Será de curto, médio ou de longo prazo ? Quais serão os seus principais reflexos nas demais economias mundiais, em especial nos paises emergentes como o Brasil, Rússia, China e Índia ?
Em termos de Brasil, apesar de não podermos nos considerar como uma ilha imune dentro dessa crise, podemos garantir que todos os nossos atuais fundamentos econômicos são bastante sólidos, e que a nossa vulnerabilidade externa é bem pequena S a crise não se estender além de 2008, não devemos temer amargar grandes impactos em nossa economia, pois até mesmo o crescimento do PIB do país em 2008, até onde podemos vislumbrar, está garantido entre 4,5 % e 5 % .

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