segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A Valorização do Profissional mais Qualificado

Por Paulo Sergio A. Cruz
Professor Universitário, Economista, Consultor Técnico da Aliança Cooperativa Internacional – ICA - e Editor Chefe da revista Tendências do Trabalho.- e-mail : psergiocruz@tendenciasdotrabalho.com


A baixa oferta de profissionais qualificados no mercado de trabalho, deve garantir o crescimento maior da remuneração desses mesmos profissionais nos próximos anos. Esse fenômeno, que é quase axiomático, entretanto, pode trazer como conseqüência imediata a queda nos ganhos obtidos na redução dos índices de desigualdade, sob a ótica da distribuição de renda.

Nas últimas décadas temos observado uma melhoria acentuada na distribuição de renda no país, fruto basicamente da estabilidade econômica, do controle inflacionário e de ganhos de produtividade, obtidos na economia brasileira como um todo.

As perspectivas reais de um crescimento nos próximos anos, em torno de 55 a.a, projetados para o PIB do país pelos principais pesquisadores do assunto e entidades voltadas para esse fim, traz no seu bojo uma tendência quase perversa: o salários dos trabalhadores mais qualificados deve subir mais do que a média dos demais salários. Como o número de trabalhadores mais qualificados é pouco representativa , diante da massa geral de trabalhadores, a distância projetada entre o topo da pirâmide e a base no mercado de trabalho tende a se reduzir mais lentamente, e essa conseqüência vai de encontro ao que ocorreu nos últimos anos.

A queda nos índices de desigualdade no país s recentemente, ocorreu em razão do sistema educacional brasileiro se apresentar mais homogêneo, quando comparado como, por exemplo, acerca de 15 anos atrás, onde somente a elite tinha acesso à educação. O aumento no nível de escolaridade da camada mais pobre da população brasileira, especialmente entre os jovens, diminuiu, sensivelmente, os diferenciais de salários entre o topo e base da pirâmide.

A título de explicitação do que estamos falando, podemos lembrar, por exemplo, que em 1.996, apenas 16,2% da população brasileira em idade escolar, havia completado o ensino médio. Esse mesmo índice hoje, já alcança a 29,2%, embora ainda esteja mito longe dos padrões buscados pelas empresas, pois é bom lembrar também que apenas cerca de 15% dos jovens, com faixa etária de 24 anos chegam a freqüentar uma universidade. Alguns especialistas no assunto, chegam a fazer uma comparação, bastante plausível, com o chamado milagre econômico, ocorrido na década de 70, no qual o país cresceu a taxas acima de 8% a.a, mas no qual, a desigualdade se ampliou , inquestionavelmente, em razão da grande concentração dos aumentos salariais entre o nicho daqueles que possuíam maiores níveis de educação: a elite de então.

Quando fazemos uma pequena análise nas estatísticas disponíveis sobre os rendimentos do trabalho, constatamos que os trabalhadores que ganhavam acima de R$ 11.3231, portanto os mais ricos e mais qualificados, representando cerca de 1 % do total , tiveram aumentos reais de aproximadamente 13,2%, que são comparados com 12,1 %, de aumento, obtidos pela média geral dos trabalhadores. A explicação é relativamente simples: com falta de investimentos na educação, os trabalhadores mais qualificados e com melhor nível educacional, passaram a ganhar mais. Por outro lado, o encarecimento dos investimentos e a redução nos níveis de competitividade das empresas, são conseqüências inevitáveis do fenômeno acima mencionado, pois uma empresa, sem um corpo de funcionários bem qualificados , se torna bem mais lenta na adaptação às inovações tecnológicas, cuja velocidade é cada maior nesse mundo global.
A conclusão que podemos chegar, diante do panorama acima descrito, é de que cada vez é mais premente o aumento no nível educacional dos nossos trabalhadores, seja através da criação de novas escolas técnicas, seja através do aumento no nível de jovens que têm acesso à universidade. Somente esse binômio será capaz de diminuir, cada vez mais e de maneira constante, o “Gap” existente entre o trabalhadores mais pobres e os mais ricos no mercado de trabalho no Brasil.

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